domingo, 22 de janeiro de 2012

Red, White & Blue

Estamos acostumados a ver personagens sofrerem na história do cinema, desde desenhos da Disney, as grandes produções de Hollywood. Mas as pessoas estão mais acostumadas com finais felizes, tal personagem pode comer o pão que o diabo amassou, que no final dá tudo certo pra ele. Por muito tempo o cinema pregou essa ideologia, até mesmo para vender, e o público em geral, aceitou isso, levando como esperança para sua vida pessoal. Muitos quebram a cara, ao ver que a vida não é como a desse tipo de cinema. Outras produções, vão pelo caminho contrário, mostram um mundo que não é bonito, e mesmo quando parece que vai dar tudo certo, acontece uma tragédia que desencadeia outras e termina por foder tudo.

Red, White & Blue (dirigido por Simon Runley) é assim, uma história triste, com personagens solitários, cada um com sua tragédia particular. A história é centrada em Erica (Amanda Fuller), uma ninfomaníaca que mora de favor em uma pensão, em troca do quarto, limpa a casa; Nate (Noah Taylor), ex-combatente do exército americano, que mesmo tendo proposta da CIA, trabalha em um depósito por opção; e Franki (Marc Senter), um jovem desajustado, que lida com o câncer da mãe, e tenta ter sucesso com sua banda de Rock.

O destino desses três personagens se encontram de forma simples, Erica transa com Franki em uma de suas "aventuras" noturnas - enquanto Nate, solitário, tenta se aproximar dela, e mesmo rejeitado, a ajuda a conseguir um emprego, e em nenhum momento, tenta se aproveitar dela, mesmo sabendo como ela é. Com o desenrolar, Nate e Erica vão se aproximando mais, e criando uma relação de dependência afetiva, em que um supre a carência do outro. Em paralelo, Franki e sua banda começam a receber convites de outros continentes, e sua mãe parece estar curada do câncer. Mas aí, quando tudo parece começar a dar certo pra todos, a vida decide a dar um golpe em todos.

Não vou entrar em detalhes do que acontece daqui pra diante. A jovem atriz Amanda Fuller, em uma bela atuação, mostra uma personagem com semblante sempre triste, são raros os momentos que a vemos sorrir, e mesmo sabendo que não vai acontecer, torcemos para que ela tenha seu final feliz. Noah Taylor também vai bem, um homem, com um passado turbulento, que busca uma vida tranquila - seu ódio vem a tona, e não hesita em machucar até pessoas inocentes para conseguir seu objetivo. Já Marc Senter também tem seus méritos ao construir seu personagem. Podemos considerar que o filme é dividido em duas partes - a primeira, a mais longa, nos leva a conhecer cada personagem, e assim entender o porquê, de seus atos na  violenta segunda parte - uma história dramática, com uma brutal sequência final. O Roteiro e a edição, acertam na opção de tratar tudo no diálogo, acompanhamos a narrativa de forma que, parece que estamos ali presenciando tudo, sem poder fazer nada para evitar as trágicas consequências.

Não dá pra julgar ninguém, muito menos apontar culpado. Cada um tem seus motivos, que justificam seus atos, mesmo que deturpados. Mas nós seres humanos somos assim, de alguma maneira temos a necessidade de preencher o vazio deixado pelo estrago de uma tragédia. Seja com atos que não nos deixam orgulhos, mas trazem um estranho tipo de paz.




Dirigido por Simon Rumley
Elenco: Amanda Fuller, Noa Taylor e Marc Senter


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ivo Costa no Boca


Isso aí cambada, agora faço parte da equipe do Boca do Inferno - vou escrever algumas críticas para este que é o melhor site de filmes fantásticos do Brasil - vou continuar com o blog, então podem continuar acessando, talvez demore mais pra atualizar, afinal tenho que conciliar com meu trabalho que é foda, com estudo e agora com o Boca. Agradeço a todos que acompanham e curtem o blog, pois foi graças a vocês que consegui esse feito.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Kill List (2011)

Filme inglês incômodo e brutal, segundo trabalho do diretor Ben Wheatley, pouco conhecido por nós brasileiros - independente e vencedor de vários prêmios em alguns festivais na europa, entre eles, o de melhor ator coadjuvante para Michael Smiley no British Independent Film Awards.

O início da trama, mostra a rotina de uma família em crise, Jay (Neil Maskell), Shel e seu filho - entre brigas e reconciliações, recebem a visita do amigo Gal (Smiley) - que traz para Jay uma proposta de trabalho, com muita grana envolvida - Jay a princípio recusa, mas após outra briga - aceita o serviço - assassinar três pessoas. O passado de Jay é revelado através de diálogos entre os personagens, sabemos que o mesmo é um ex-combatente, assim como Shel e Gal - e que teve um serviço malsucedido em pouco menos de 1 ano, que o deixou um pouco paranóico. 

Quando conhecemos o contratante do serviço, já sabemos que não será um trabalho comum, um excêntrico homem de terno preto, de poucas palavras, que corta a mão de Jay , assim como a sua, numa espécie de pacto de sangue - piora quando vão atrás da primeira vítima da lista - um padre - que antes de ser alvejado com o tiro, agradece a Jay. A partir daí, a dupla entra em mundo sombrio, onde toda a sanidade dos dois será posto a prova. O que parecia ser um simples filme de ação, onde dois matadores tem que executar um serviço - se torna em uma estranho e sombrio thriller. Jay fica curioso pelos motivos das mortes, e toda sua paranóia vem a tona, preocupando o amigo Gal - e com o decorrer da trama, de caçadores se tornam a caça.

O roteiro do filme acerta ao não mostrar o passado dos personagens através de flashbacks, apenas diálogos nos dão uma noção do que aconteceu e do que está por vir - opção também interessante em não revelar muita coisa sobre o sombrio Contratante do serviço, assim como outros personagens, entre eles a atual namorada de Gal, a estranha Fiona. Sem muitas explicações o roteiro segue para um final trágico, que nos deixa sem entender os motivos para o tal - mas choca de uma maneira brutal. A edição com cortes secos é incômoda - deixa o filme num clima de tensão crescente e agonizante.

Com mais perguntas do que respostas, Kill list é brutal a misterioso a sua maneira - poucas são as cenas de violência, mas realmente fortes - é estranho, incômodo - daqueles filmes que nos deixa sem lugar quando acaba - Méritos por ser um filme independente e nos tirar da mesmice dos blockbusters de Hollywood.





Dirigido por: Ben Wheatley
Elenco: Neil Maskell, MyAnna Buring, Michael Smiley


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Pele que Habito

Antes de ser lançado, já se criou uma grande expectativa para este longa, anunciado como um filme de horror, A Pele que Habito seria a primeira investida do diretor no gênero. Todos já conhecemos Almodóvar, acostumado a dirigir dramas, sempre com temas polêmicos, o diretor é conhecido por explorar o universo feminino, sempre focando na sensualidade de suas atrizes, e com uma estética invejável em sua direção. Após o filme ser lançado, sempre escutamos alguns discursos "Não é um filme de horror, é mais um filme do Almodóvar" - Claro que é um filme do Almodóvar, sua identidade está ali, seu estilo está ali - mas tudo gira em torno de uma história doentia e pertubadora. O filme é inspirado em um livro, Tarântula, do escritor francês Thierry Jonquet, mas podemos citar várias outras referências, entre elas; Les Yeux sans visage (1959) do diretor francês Georges Franju , e até mesmo Frankenstein. 

Robert Ledgard (Banderas) é um famoso cirurgião plástico, que mantém a paciente Vera trancada em um quarto - já percebemos que não é uma relação médico-paciente comum, já que Vera está ali contra sua vontade. O cirurgião, usa a paciente como uma cobaia para uma experiência, criar uma pele artificial perfeita, que pode livrar o ser humano de várias doenças. Isso é o que o diretor nos leva a acreditar no primeiro ato, mas quando mostra o passado de Ledgard, começamos a entender os reais motivos por sua obsessão pela desconhecida paciente.

Situações trágicas e angustiantes, são reveladas aos poucos, de maneira que compreendemos melhor a primeira parte, mesmo assim, ainda não entendemos certas atitudes de alguns personagens. A vingança de Ledgard contra um dos supostos responsáveis pela tragédia de sua família, vira obsessão. Quando chega a revelação clímax do filme, aí meu camarada, boquiaberto, só consegui dizer no momento: "PQP, não acredito no que estou vendo". E sim, Almodóvar nos dá um soco no estômago; com uma história perturbadora, que vai da vingança a obsessão, do ódio a loucura - O diretor nos deixa imaginando várias versões para a conclusão da trama, e traz um reviravolta surpreendente. Mas não fica nisso, o final ainda se estende para situações realmente incômodas.

A estética usada pelo diretor é impressionante, desde a fotografia (sempre com tons vermelhos), até a excelente trilha sonora - contando com a ajuda das grandes atuações. Na minha humilde opinião, é o melhor filme do Almodóvar, com a trama mais surpreendente e chocante entre suas obras. Como disse antes, continua sendo um filme do Almodóvar, Cult, Arte - Mas insisto, é uma história de horror, nada de filme sangrento ou visceral - mas um horror psicológico, onde o diretor não tortura somente os personagens, mas também o expectador, que fica com uma sensação incômoda ao final da obra, que sinceramente, nem consigo descrevê-la aqui.



Dirigido por Pedro Almodóvar.
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Blanca Suárez, Susi Sánchez, Bárbara Lennie.