terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Shutter (A Morte está ao seu Lado)

Quem nunca ouviu falar sobre fotos que registram ‘fantasmas’? Acho que todo mundo conhece um caso desses. A verdade é que a maioria dessas fotos são montagens, ou algumas delas apresentam pequenos defeitos que nos levam a crer que existe um fantasma exposto na foto. Será possível que uma simples máquina fotográfica consiga registrar imagens de espíritos? A trama de Shutter tem como base esse princípio, quando o fotógrafo Tun e sua namorada Jane começam a perceber que, em suas fotos, aparece a misteriosa imagem de uma mulher, após um atropelamento em que ambos foram responsáveis. Estranhos sonhos e aparições começam a atormentar o casal, que decide investigar o que está ocorrendo.

A verdade é que Tun parece querer ignorar o fato, mas Jane está disposta a ir até o fim das investigações, e descobre que a mulher das fotos se chama Natre e tem uma ligação com o passado de Tun. O filme evoca a situação de que algumas pessoas, ao morrerem, querem sempre ficar próximas de seus entes queridos, ou alguns, ficam porque querem se vingar de alguém que lhes fez mal.

Um pouco diferente dos filmes coreanos e japoneses, o roteiro de Shutter é mais ‘redondo’. A trama é bem desenvolvida, apesar de um pouco batida e não existem muitas complicações para o espectador quebrar a cabeça. Peca por não aprofundar no tema, chega a ser um pouco previsível em certo momento, mas não deixa de nos surpreender em outras situações. O grande trunfo de Shutter está na excelente atuação do casal de protagonistas e nas aparições assustadoras de Natre. E o filme ainda reserva uma surpresa assustadora para um final aterrador. Confesso que passei uma semana tendo pesadelos e dormindo com a luz acesa.




Shutter - They are around us (2004 - Tailândia)
Diretor: Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom
Elenco: Ananda Everinghan, Natthaweernuch Thongmee, Achita Sikamana, Unnop Chanpaibool


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Audition (1999)

Takashi Miike é o diretor mais polêmico e controverso do Japão, tendo realizado do início dos anos 90 até hoje mais de 60 filmes. Conhecido por produções extremamente violentas, como Ichi the Killer, Takashi tem um trabalho peculiar que merece ser analisado a fundo.

A trama conta a história de Aoyama, que depois de 10 anos sozinho após o falecimento de sua esposa, decide se casar novamente, influenciado por seu filho. O problema de Aoyama é encontrar a mulher perfeita que substitua a sua falecida amada. Um amigo decide ajudar, realizando uma Audição para escolha de atrizes para um suposto filme. Aoyama se apaixona por Asami, uma doce e tímida aspirante a atriz. Os dois começam a se encontrar e Aoyama fica cada vez mais apaixonado pela jovem. Boa parte do filme é um romance entre os protagonistas, no decorrer da história, toques surrealistas no melhor estilo ‘David Lynch’começam a revelar o passado de Asami e quais são suas reais intenções com o protagonista. Uma mulher doce, mas guarda dentro de si um ressentimento de seu passado – o mistério que aos poucos se revela..

Audition é um filme para quem tem estômago forte. A sequência final mostra uma doentia e cruel tortura, que chega a causar repulsa no espectador (por várias vezes tentei tapar os olhos). Miike faz questão de deixar a câmera focada na tortura, que vai de agulhadas a mutilações. Mesmo sendo esta a sequência mais intensa do filme, Audition é mais um filme japonês que fala sobre solidão. É impressionante como os diretores nipônicos conseguem retratar de modo tão tocante, e mostrar a condição atual do país. Alguns podem considerar a violência explícita do filme como um problema, mas se tratando deste excêntrico diretor, considero um ponto alto em suas obras, um diferencial – coragem para mostrar o que outros escondem.

Takashi Miike realizou uma obra ao mesmo tempo poética e doentia, uma breve relação entre céu e inferno, anjos e demônios, bem e mal. Existe diferença entre estes? Um vive sem o outro?






Audition (1999 - Japão)
Dirigido por Takashi Miike
Elenco: Ryo Ishibashi, Eihi Shiina, Tetsu Sawaki


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Abismo do Medo (The Descent)

Um grupo de amigas, acostumadas a praticar esportes radicais que, após um acidente envolvendo a família de uma delas, se separa. Um tempo depois, se reencontram para explorar uma caverna. Durante a exploração,  se perdem, e além de enfrentar os desafios que o local proporciona, percebem que não estão mais sozinhas. Assim tem início a uma angustiante e claustrofóbica luta pela sobrevivência, que mistura o medo de estarem sozinhas e isoladas, com uma luta psicológica, na qual as personagens têm de enfrentar seus próprios demônios e descobrir que na luta pela sobrevivência é cada um por si.

O elenco é praticamente todo feminino. O único homem que aparece passa desapercebido pelos 5 minutos inicias do filme. Pode soar um pouco feminista para alguns e machista para outros, mas se o diretor quis criar alguma polêmica relativa a este ponto, esta se perdeu no ar. O que marca o filme é o clima de tensão. A fotografia utilizada é quase um black out de tão escura. Apenas as luzes de lanterna, isqueiros e sinalizadores iluminam o local, o que só contribui para o sentimento de claustrofobia que o filme proporciona. Os sustos aqui funcionam, são angustiantes e não engraçados como em outras produções. O diretor sabe dosar a violência - ela está ali presente, mas no momento certo, intercalado com o eficiente clima de suspense. 

O inglês Neil Marshal, que já havia nos presenteado com o ótimo Dog Soldiers, mostra aqui mais maturidade. Enquanto Hollywood vive uma fase anêmica para filmes de horror, o cinema Europeu parece fervilhar como um caldeirão no inferno.




The Descent (2005)
Dirigido por Neil Marshall
Elenco: Shauna Macdonal, Natalie Mendoza, Alex Reid, Saskia Mulder, MyAnna Buring, Nora-Jane Noone


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Wolf Creek - Viagem ao Inferno


Wolf Creek trata-se de uma produção independente australiana livremente baseada em fatos reais. A história retrata três jovens - Ben, Liz e Kristie - viajando pelas desertas estradas australianas, e por curiosidade vão conhecer a cratera de Wolf Creek, provocada por um meteoro. Porém o carro estraga no local, e os jovens ficam isolados até a chegada de um estranho, mas simpático ‘caipira’ que oferece ajuda. Daí começa a verdadeira 'viagem ao inferno' dos jovens.

Nos primeiros 30 minutos de filme, somos apresentados aos três protagonistas. Cria-se, então, uma empatia entre personagens e espectadores, talvez porque nos identifiquemos com os mesmos. Rimos das piadas, das brincadeiras entre os mesmos durante a viagem. O elenco é jovem, bonito e competente em suas atuações. Convincentes, não caem nos estereótipos de filmes do gênero. O restante da ‘viagem ao inferno’, mostra a ajuda de Mick Taylor ( John Jarrat), que conquista a confiança dos viajantes com sua simpatia e seu jeitão engraçado, no melhor estilo ‘Crocodilo Dundee’. A figura simpática de Mick se transforma em um doentio psicopata que tem prazer em ver o sofrimento. Os jovens são submetidos a um jogo de tortura física e mental. Momentos tensos e violentos marcam o restante do longa. A simpatia criada no espectador pelos protagonistas se torna agonia.

O diretor Greg McLean, que assina também o roteiro, peca em alguns pontos, mas acerta ao não cair nos clichês dos filmes de horror e estereótipos dos personagens. O rosto do assassino é mostrado logo de cara, e não existe heroísmo entre as vítimas. As mesmas não hesitam em deixar o companheiro para trás e salvar a própria vida (isso não significa que se esqueçam dos mesmos) o que dá um tom mais realista à produção. Não existe nenhuma reviravolta no roteiro; o diretor apenas narra a trajetória de três jovens rumo ao inferno. O final pode decepcionar alguns fãs do gênero, mas é condizente com o resto do filme. Wolf Creek é cru e violento, tenso e perturbador. Comparações com filmes da década de 70 são inevitáveis, mas aí, já é outra história.




Wolf Creek (2005 - Austália)
Dirigido por Greg McLean.
Elenco: Cassandra Margrath, Kestie Morassi, Nathan Phillips, John Jarratt.